Fiscais adquirem habilidades para investigar crimes ambientais

A Administração Nacional das Áreas de Conservação mostra-se preocupada com casos de soltura de indivíduos acusados de cometer crimes ambientais, mediante o pagamento de caução, que muitas vezes não ultrapassa a décima parte do valor da compra da arma utilizada.
A informação foi tornada pública pelo Director- Geral da ANAC, Mateus Mutemba, que falava Quinta-feira (16) em Maputo, na abertura do seminário de dois dias, para capacitar fiscais das áreas de conservação em matérias de recolha de evidências no local do crime contra o meio ambiente.
Inserido no quadro das acções do combate à caça furtiva e comércio ilegal de produtos de fauna bravia, o evento tinha como objectivo melhorar a capacidade dos técnicos na identificação de evidências do crime, com incidência nas técnicas de recolha de impressões digitais com recurso a equipamentos modernos.
Apesar dos esforços dos diferentes intervenientes no combate à caça furtiva, facto que resulta no aumento de casos de condenação de furtivos a penas de prisão maior, as autoridades continuam preocupadas com relação aos índices de casos da impunidade perante os crimes contra a vida selvagem.
Segundo Mutemba, a impunidade resulta na perda de diversas espécies de animais, caso do elefante que nos últimos oito anos a sua população reduziu em 53 porcento, com incidência na Reserva Nacional do Niassa, que registou uma descida na ordem dos 60 por cento.
Estima-se que nos últimos cinco anos, pelo menos 65 leopardos, 80 leões, 44 hienas e 25 mabecos foram abatidos na reserva do Niassa, com recurso a métodos silenciosos, que consistem no uso de armadilhas e laços, para alimentar o comércio ilegal de ossos, unhas e dentes destas espécies.
Outra preocupação tem a ver com a caça do rinoceronte nas áreas transfronteiriças entre Moçambique e a África do Sul, com dados a indicarem a perda de cerca de 7.000 animais de 2008 a esta parte.
O rinoceronte é uma espécie quase inexistente nas áreas de conservação moçambicanas, e os poucos que ainda atravessam para Moçambique vindo da África do Sul, não sobrevivem por mais de 48 horas.
Só nos primeiros 6 meses do corrente ano, foram abatidos ilegalmente 260 rinocerontes, uma média de um rinoceronte por dia, tendo resultado na condenação de pouco mais de 65 cidadãos moçambicanos a penas de prisão que variam de 8 a 24 anos.
Dados oficiais do primeiro semestre indicam um aumento da actividade furtiva, incluindo incursões, nas áreas de conservação transfronteiriças de 638 para 759 casos, correspondendo a 18.9 por cento em comparação ao igual período de 2017.
A formação organizada pela ANAC em parceria com o Alto Comissariado Britânico e a International Fund For Animal Welfare (IFAW), surge em resposta a necessidade de capacitar técnicos que lidam com matérias do crime contra o ambiente, que o estado moçambicano tem estado a preservar para que as próximas gerações tenham acesso a bens e serviços ecológicos que a natureza oferece.